Recebi essa pelo twitter do Mattar.
A idéia é bem legal, um jogo educativo descrevendo o processo de produção do McDonald´s, o que bate com a idéia do Ian Bogost que comentei tempos atrás, usar um jogo para descrever um sistema.
Pelo que entendi a idéia é mostrar como o processo de produção da empresa é intrinsecamente destrutivo. Ao colocar o aspecto econômico acima de tudo a empresa produz uma série de problemas ambientais e sociais (as tais das externalidades que os economistas comentam) como a destruição de florestas, desemprego e riscos à saúde pública. O jogo é muito bem feito, com imagens agradáveis, uma interface de fácil interação e o entendimento do jogo é muito mais rápido que aparenta. Em termos de execução a equipe de design merece nota 10.
Porém em termos educacionais acho que faltou algo importante: o jogo martela sobre os danos que o modo de produção do Macdonald´s produz e a irresponsabilidade da empresa nesse aspecto. Porém, do ponto de vista do jogador o que fica patente é a necessidade de usar artimanhas criminosas como forma de manter os lucros, como subornar prefeitos, destruir o meio ambiente, desalojar comunidades etc. Caso contrário o jogador vai perder sempre e aí temos um belo dum nó.
Por um lado está o conteúdo que os projetistas pretendem ensinar exposto segundo o padrão tradicional de ensino enquanto do outro a idéia de construção de conhecimento e o aprendizado pela experiência dizem exatamente o oposto do que os projetistas supostamente desejam ensinar. O discurso simplesmente não bate com a experiência, e a meu ver a experiência é o ponto fundamental do potencial educacional através de jogo. Se a idéia é criticar o MacDonald´s acho que o fizeram de forma perigosa, esvaziando o próprio discurso.
No final, a mensagem que eu li foi “Eles roubam, eles colocam em risco a saúde das pessoas mas não há modo de se ganhar dinheiro sem fazer isso.” Se a idéia é incentivar a reflexão me parece uma completa bola fora. Conseguiram fazer exatamente o contrário do Ayti, por exemplo, foi algo como “faça o que eu digo, ainda que a experiência diga o contrário”.
Em suma é ótimo em termos de webdesign que eu achei perigoso e desastrado em termos de projeto pedagógico. O que serve para mostrar que jogos educativos, e o uso de tecnologia em educação deve ser sempre um projeto transversal, equilibrando demandas e objetivos de disciplinas variadas. Claro, eu analisei o jogo baseado em minha experiência ao jogá-lo, mas seria interessante testar seriamente o efeito do jogo junto ao público. É só hipótese minha, mas tenho minhas dúvidas se vai produzir o efeito desejado por seus idealizadores.
Renato, a leitura veio justamente do Bogost, aliás estou terminando a resenha de um livro dele. Eu não sei se entendi muito bem o seu comentário. Não entendi muito bem por que o jogador ter que usar artimanhas etc. é negativo, do ponto de vista pedagógico. A ideia não é que um game persuasivo demonstre como funciona um sistema justamente enquanto o jogador joga? O que você quis dizer com “flertaram com a doutrinação”?
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Terminei, aqui vai:
http://blog.joaomattar.com/2009/07/08/persuasive-games-the-expressive-power-of-videogames/
Talvez você tenha querido dizer que sentiu uma febre da simulação (simulation fever), dê uma olhada por lá.
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Olá João, sua produção de resenhas está ótima.
No post eu comento o Bogost (inclusive acho que vou comprar o livro) mas o objeto do texto mesmo era aquele jogo sobre o macdonald´s, do qual havia esquecido de colocar o link. Quem fez o jogo (um grupo criticando a empresa) tem um discurso, porém a experiência aprendida em jogo me pareceu totalmente diferente, é quase uma justificativa da produção predatória ou um reforço da teoria da tragédia dos comuns (Hardin, 1968). Se eu puxar um pouco para teorias de conspiração diria que é até um trabalho de contra-informação, um forma sutil de esvaziar o discurso de preservação ambiental).
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