Autopromoção Autêntica: como reconhecer méritos sem soar arrogante


Aceito que vivemos numa época cheia de conselheiros e abordagens sobre como se promover ou “fazer seu marketing pessoal” e que, nesse contexto, a autopromoção é uma necessidade real. Para seguir essa tendência de forma mais saudável, ou menos constrangedora, achei um artigo interessante do Harvard Business Review sobre a melhor forma de se promover.

Sobre as piruetas que precisamos fazer para sermos vistos. Foto por Vladimir Chake em Pexels.com

O dilema

Como abordado no artigo de Eric M. VanEpps, Einav Hart e Maurice Schweitzer, existe um dilema na autopromoção. Falar dos próprios resultados e conquistas fazem alguém parecer mais competente, mas tendem a fazer pessoa parecer mais egoísta e menos amigável. Eu acrescento até que menos confiável, acho bem provável que alguém que se elogia também exagere suas vitórias e esconda suas limitações. Despertando o ceticismo dos outros. O oposto é a auto depreciação, não se dar o devido crédito ou ressaltar derrotas podem fazer alguém parecer mais amigável (eu diria mais inofensivo) mas também mais inseguro e menos confiável.

Dessa forma, o fio de navalha está em como se promover sem parecer egocêntrico.

A pesquisa

Os autores pesquisaram sobre o assunto. Se tem uma coisa que admiro nos americanos é esse cientificismo. Eles não se contentam com a opinião, mas colhem dados e conduzem experimentos. Os dados vieram de diferentes contextos, como redes sociais, avaliações de trabalho, declarações de congressistas americanos e envolveram mais de 2500 participantes. Os autores compararam a promoção de si e de outros, o que chamaram de dual-promotion ( promoção dupla), e a autopromoção solitária. Foi observado que a promoção da equipe desperta simpatia sem prejudicar a avaliação de competência individual. Em alguns experimentos a promoção dupla até aumentou a percepção de competência. Ao descrever os resultados de outros junto com os próprios, a pessoa demonstra a capacidade e confiança em avaliar, promover e se associar à pessoas competentes.

Os estudos mostraram como políticos competentes usam esse formato para descrever seus resultados com base em declarações de congressistas americanos. Observando que isso se reflete em tendências de voto.

Mas então porque isso não é mais comum. Como os autores observam, promover a si e aos outros é contra intuitivo. Inicialmente, pode parecer que elogiar os outros diminui os próprios resultados. O comum é se autopromover ou ficar quieto. Mas acredito que uma das belezas da ideia é justamente esse inesperado. Vivemos em tempos narcisistas, todo mundo se autopromove. Fazer algo diferente vai atrair a atenção e trazer os benefícios listados acima. Encontrei um exemplo brasileiro no livro Um Paciente Chamado Brasil, do ex-ministro Henrique Mandetta. Durante a narrativa sobre a luta contra o Covid-19 e a situação no governo, ele identifica e comenta, com frequência, de forma positiva sobre as pessoas com quem trabalhou.

Como fazer

Após reconhecer que promover os outros te ajuda, é hora de praticar. O primeiro passo é pensar além de si mesmo, identificar as pessoas, pensar nas realizações dela e observar atributos positivos dessa pessoa quando falar com os outros.

Quando estiver em uma equipe observe e reconheça o trabalho dos coletas. Em alguma atividade competitiva, cumprimente e reconheça seus competidores. Convenhamos é menos dolorido perder para um adversário forte e superá-lo valoriza, em ambos os casos é justo reconhecer e cumprimentar um adversário. Um exemplo dos autores foi o tenista Roger Federer quando venceu Kei Nishikori no aberto da Austrália de 2017: “Ele jogou com todo o coração e foi uma grande partida… ele é um dos melhores jogadores de base do torneio”. Federer completou a promoção do adversário com a autopromoção ao incluir no final: “Foi uma grande vitória para mim”.

Outro ponto importante é manter autenticidade. Exagerar, ser meramente protocolar vai soar falso ou bajulador. Nesse caso, menos é mais e o diabo mora nos detalhes. Observar o trabalho feito em conjunto e como esse trabalho impactou no resultado final é uma forma de tornar esses elogios autênticos.

E a questão de gênero?

Os autores acreditam que essa forma de promoção funciona independente do gênero. Uma dinâmica observada nos estudos sugere que mulheres tem menos tendência a se autopromover que homens e elas recebem menos crédito. Os autores esperam que a promoção dupla seja uma forma saudável de reduzir a diferença de reconhecimento, e remuneração, que existe entre homens e mulheres.

Conclusão

É frequente que simpatia e competência sejam vistos como excludentes, mas talvez seja possível torná-las complementares. Acredito que o exercício de observar os méritos de outros à sua volta pode ser útil não apenas para apresentar os próprios méritos, mas para entender como fazemos parte de um contexto que nos influencia e como podemos extrair o melhor dele. É uma forma de se promover melhor, mas também de praticar a empatia. O que me lembrou a proposto do Austin Kleon em Mostre o seu trabalho, em que ele se propõe a desmontar o mito do gênio solitário ao propor valores como transparência e colaboração através da exposição do próprio processo criativo.

Dizem que o esforço próprio pode te levar ao sucesso, mas é muito improvável que ele seja alcançado sozinho. Reconhecer o papel positivo dos outros na própria carreira pode ser a forma mais saudável de se promover e inspirar a si a aos outros a fazer isso de forma mais honesta e humilde, os ganhos pessoais vão muito além da simples autopromoção. É como a pessoa que começa a fazer exercícios para ficar mais bonita, mas descobre que ser mais saudável, ter mais qualidade de vida e longevidade é ainda melhor que o corpo sarado inicialmente planejado.

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