
Demorou, mas consegui inaugurar o meu jogo de tabuleiro Mysterium Park. Criado por Oleksandr Nevskiy e Oleg Sidorenko e editado no Brasil pela Galápagos Jogos, o jogo é uma versão mais concisa, fácil de aprender e barata (sem demérito) de Mysterium, dos mesmo autores. Pelo menos foi isso que o vendedor da loja me disse e foi o suficiente para me convencer.
Um jogo de investigação paranormal onde é preciso decifrar imagens para resolver um mistério. Já fazia tempo que eu havia comprado este, mas me faltava um grupo animado para se aventurar com um jogo novo. Do qual pudemos conhecer a trama, o material, jogar uma partida e, para variar, eu pude imaginar alguns possíveis usos educacionais do jogo.
A trama
Após o desparecimento do diretor de um parque de diversões, o local passou a sofrer acontecimentos estranhos. O que levou um grupo de médiuns a suspeitar que o local estava assombrado. O fantasma do finado diretor deseja mostrar quem o matou e onde está seu corpo, mas como já não pode falar, ele só pode se comunicar com os médiuns através de visões. Restam apenas seis dias para descobrir antes que o parque vá embora, o assassino escape e o fantasma possa descansar em paz.
O jogo
A vantagem de um jogo com uma narrativa bem construída é oferecer um contexto que facilita a compreensão das regras. Trata-se de um jogo cooperativo, no qual tanto o médium quanto o fantasma desejam descobrir o mistério. A investigação funciona por dedução, onde o fantasma apresenta suas visões através de cartas com imagens belas, complexas e insanas que devem ser interpretadas pelos médiuns.
As primeiras fases funcionam por eliminação: você afasta os inocentes e os que ficarem são suspeitos que serão guardados para a fase final. O jogador que faz o fantasma não pode falar, apenas ver as cartas dos suspeitos no tabuleiro e indicar cartas com as visões que sugiram determinado personagem do parque, que variam desde o pipoqueiro até uma mulher que atua como bala humana. O fantasma deve se manter neutro e, no final da fase, ele pode indicar se os médiuns acertaram ou não os seus palpites. Se todos os médiuns acertarem, o jogo vai para a próxima fase. Caso contrário, é preciso continuar até eles acertarem todas.
Depois de separados, os inocentes entramos na fase 2, é preciso avançar para as cartas que descrevem o local onde está o corpo de forma similar ao que ocorreu na fase 1.
Na fase final, é preciso acertar quem é o verdadeiro culpado e onde está corpo da vítima. Como agravante, nessa parte é preciso acertar de primeira. Os dias são turnos de jogo e quanto mais cedo os médiuns acertarem as visões, maior a chance de descobrirem quem é o assassino. É claro que a recíproca também é verdadeira.
O material
O material do jogo é excelente em termos de qualidade e identidade visual, as ilustrações são primorosas. As cartas de visão estão cheias de detalhes, o que torna a vida do fantasma que sugere as visões e dos médiuns que as interpretam mais difícil, mas isso faz parte da dificuldade que torna o jogo interessante.

A caixa é pequena para jogos de tabuleiro, mas é bem organizada e prática. Eu gostei porque evita que os jogo fiquem bagunçados dentro da caixa e estrague com o tempo.
Em alguns elementos achei que a preocupação em criar uma identidade visual coerente custa em termos de usabilidade, certas cartas poderiam ter o verso mais diferenciado para facilitar a separação no jogo. O verso das cartas é muito útil para separar cartas com funções diferentes.
A nossa partida
Joguei com um grande amigo e sua esposa. Como diz o Claudio Duarte em Homo Regulans, há uma habilidade específica em ler, entender e explicar regras de jogo para os outros. Todo o bom grupo de jogadores de jogos de tabuleiro precisa de alguém para fazer esse papel e não tenho vergonha em dizer que esse meu amigo é melhor do que eu nisso.
Como eu há havia lido as regras e era o melhor para fazer cara de poker e não denunciar emoções eu me dispus a fazer o papel do fantasma. Logo eu descobri que o pós-vida do fantasma é bem mais difícil que eu pensava. É preciso sugerir um dos personagens do circo com as cartas, mas minhas opções são limitadas, eu só tenho sete cartas para começar e posso ir comprando de acordo com a . Eu tinha que indicar um palhaço para o primeiro médium e escolhi três cartas: duas com cores similares às do palhaço e uma terceira com um balão, era a única carta que eu tinha com um objeto igual ao que o palhaço carregava.
O resultado foi um belo desastre, os médiuns foram por outras linhas de dedução focando nos vários objetos existentes nas cartas, o que os levou a hipóteses indesejadas. Uma das jogadoras até sugeriu a opção do palhaço mas outros jogadores usaram outros elementos nas cartas para justificar suas hipóteses. Assim, perdemos o primeiro dia, ou turno de jogo, com todas as hipóteses erradas.

Em outros casos consegui ajustar a minha linguagem, passei a enviar menos cartas e tentar ser mais sintético. Em alguns casos depois de algumas cartas eles descobriam o padrão. Mas descobri que como fantasma é difícil corrigir um rumo errado, pois os médiuns também terão que concluir que foi o rumo errado apenas com as visões.
Assim, perderam-se a maior parte dos dias, ou turnos de jogo, na fase de excluir suspeitos, e não sobrou turnos o suficiente para descobrir onde estava o corpo. Mesmo trabalhando em grupo acabamos perdendo o jogo por isso. De qualquer modo também é interessante a fase pós-jogo onde eu, como fantasma, expliquei minhas decisões e eventuais erros. O que rendeu algumas conversas hilárias.
Aprendizagens possíveis
Achei que o jogo tem um excelente potencial para trabalhar a integração e comunicação entre equipes. Justamente devido ao esforço para entender a forma de pensar do fantasma e ao trabalho conjunto entre os médiuns para entender as visões. Afinal, é um jogo colaborativo com objetivos claros e mensurável. O tempo de partida, que inicialmente parece curto, se mostra longo devido às discussões entre os médiuns e é interessante ter alguém para cobrar decisões. Um papel que eu acabei fazendo em alguns momentos.
Outro aprendizado pode ser mostrar como é difícil se expressar apenas visualmente. Muita gente acha que comunicação por símbolos funciona da mesma forma que por textos, quanto mais informação melhor. Não necessariamente. Colocar alguns gestores para fazer o papel de fantasma seria excelente descrever as dificuldades que os designers gráficos enfrentam todo o dia em um ambiente controlado.
Para manter o clima sobrenatural eu pensei usar um copo e textos, como se fosse um jogo do copo, para simbolizar as respostas do fantasma.
Conclusão
Eu adorei o jogo, a trama, o material e a experiência de jogo são ótimos. E olha que nós perdemos. As regras de jogo tornam a identidade do assassino e o local onde está o corpo imprevisíveis até para o fantasma, o que deixa o jogo ainda mais instigante. É o tipo de jogo que você perde a noção do tempo, tal o grau de envolvimento.
Fotos: Galápagos Jogos
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