Pesquisadores do Futuro


Em outubro de 2022 participei da feira de ciências “Pesquisadores do Futuro: Inclusão de Crianças e Jovens do DF e Entorno no Mundo da Ciência” realizada na Embrapa Hortaliças, um centro de pesquisa agropecuária.

Para variar, trabalhei aplicando o Desafio no Cerrado. Levei uma unidade do jogo e atuei como facilitador para receber eventuais alunos interessados. Alguns olhavam curiosos e receosos em se aproximar, eu convidada e geralmente respondiam constrangidos que não sabiam jogar. Eu respondia que estava lá justamente para ensinar e convidava para uma partida rápida e sem compromisso. Sempre achei engraçado observar como um jogo de tabuleiro pode ser intimidador na primeira vez que a pessoa joga.

Assim que os primeiros aceitavam, um pequeno amontoado de gente se acumulava em volta da mesa. Como em outras vezes, a melhor propaganda que eu tenho é ter gente jogando para atrair outros. Nesse ponto começa a se formar uma inércia e a mesa fica sempre cheia. Outro ponto interessante é que ao mesmo tempo que alguns ficam receosos, outros adoram e querem jogar uma partida depois da outra. Chego a pedir para alguns darem espaço para quem não jogou ainda.

O trabalho nesse tipo de evento requer um certo desapego. Ao contrário dos tempos de projeto nas escolas os alunos não estão em sala de aula envolvidos no jogo com exclusividade. Uma feira de ciências é um local diverso, cheio de coisas para ver e a ideia é visitar o maior número de estandes possível, não ficar preso em um só. Assim, o jogo pega um perfil específico e muitas partidas curtas são muito mais interessantes que poucas partidas longas. É preciso conduzir as partidas com um certo grau de desapego, há vários outros fatores para distrair os jogadores e em certos momentos eles vão embora simplesmente porque sua turma está indo para outro ponto da feira.

Sobre a feira em si, fiquei bem impressionado com a eficiência da equipe. Eventos com muitas crianças podem parecer caóticos e barulhentos, mas justamente por isso que precisam ser muito bem organizados. Os ônibus chegavam e sempre havia um guia na porta esperando as turmas e orientado dezenas de alunos entre os diversos estandes oferecidos. Todos os estandes tinham facilitadores para receber o público, que rapidamente chegou na casa das centenas de alunos e professores. Segundo fiquei sabendo depois, a estrutura montada seria capaz de atender ao dobro de alunos presentes sem muito problema. O que certamente bateria na casa dos milhares de alunos por dia.

Conversando depois com o pessoal da equipe descobri que a unidade sempre valorizou esse tipo de atividade. Tanto que tem uma sólida tradição em material infanto-juvenil. Também fiquei sabendo como esse tipo de atividade pode render surpresas. Pelo que soube, já aconteceu de descobrirem um ou outro gênio em eventos similares que acabou virando bolsista e entrando na área de pesquisa desde cedo. Acredito que esse é um dos grandes méritos desse tipo de trabalho, aproximar a ciência do cidadão comum e, principalmente, inspirar os mais novos a serem cientistas. Aberrações como o negacionismo climático e os antivacinas mostram como popularizar a ciência é importante. Por outro lado, eventos como esse tem sido excelentes para dar destaque a pessoas capazes e resultam em casos de sucesso. A deputada federal Thabata Amaral por exemplo começou a ser conhecida quando se sagrou como medalha de prata em uma Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas e depois se formou em astrofísica, ciência política e ativista da educação. Se, dentre os milhares de alunos que participam de eventos desse tipo, surgirem alguns milhares desses “gênios” o investimento para o país já valeu a pena.

Não é apenas um monte de criança, brinquedos e tubos de ensaio é sobre curiosidade, mostrar que o mundo é mais complexo e variado que o nosso cotidiano mostra. Eventos como esses são a chance de inspirar uma nova geração a continuar o trabalho que está sendo feito hoje e precisa continuar. A ciência é uma gigantesca inovação incremental.

2 comentários em “Pesquisadores do Futuro

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  1. Interessante o seu post.
    As novas gerações precisam de mais experiências assim para aguçar a curiosidade, desenvolver as próprias afinidades e talentos pessoais.

    Em um mundo em que tudo é cada vez mais veloz e disruptivo, quanto mais cedo as crianças e adolescentes tiverem contato com a complexidade do mundo atual, melhor para eles.

    Aliás, melhor para todos nós, pois essa é a geração que solucionará os problemas criados pelas nossas gerações.

    Além disso, a popularização da ciência é essencial para que haja o devido esclarecimento, principalmente com tantas notícias falsas divulgadas com ares de verdades incontestáveis.

    Boa semana!
    https://simplicidadeeharmonia.com/

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    1. Eu concordo que é importante que as pessoas entendam que o mundo é complexo. Acredito que certas aberrações como o fundamentalismo e a crença na terra plana são fruto de um profundo medo da complexidade do mundo.

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