Uma coisa que me chama a atenção por aqui é a infinidade e variedade de grupos voluntários. Há sociedades em empreendedorismo, cultura, religião, ateísmo, literatura, teatro e várias outras. É possivel se ocupar a semana com uma infinidade de palestras e outros tipos de evento. No domingo, por exemplo assisti a uma apresentação de teatro amador em que fizeram um musical.
Não que não exista disso no Brasil, mas aqui parece haver com mais intensidade, as pessoas são incentivadas a se agrupar e organizar desde muito cedo. A idéia de empreendedorismo de que se deve assumir riscos é muito incentivada. Seja com os grupos de teatro do colégio ou a montagem de uma conferência como vou ter de fazer. Até mesmo os grupos de caridade são geridos numa abordagem mais empresarial, como as diversas instituições de caridade que funcionam como brechós ou outros estabelecimentos comerciais.
Tanto que acho interessante nós brasileiros dizermos que eles são os individualistas, por aqui trabalham em equipe até voluntariamente. A maioria das pessoas que conheço no Brasil simplesmente não vê razão para fazer algo que não tenha haver com ganhar dinheiro ou que não tenha algum retorno direto.
Das vantagens desse incentivo ao empreendedor. Vejo que as pessoas tendem a querer se virar sozinhas, sem esperar apoio externo, mesmo socialmente os benefícios são visíveis. Ter um negócio e falir no Brasil é visto como uma humilhação, aqui é uma eventualidade. O que conta é sua capacidade de se levantar. Isso ajuda a criar uma sociedade mais descentralizada e principalmente menos vertical. Aqui não há apenas desconfiança em relação ao governo, mas a qualquer organização que seja grande demais. Uma grande infinidade de pequenas empresas é mais benquista que uma oligarquia de mega-multinacionais.
Bem, aqui no Brasil eu consigo enxergar muito trabalho voluntário a favor dos indefesos,dos doentes, dos pobres, das crianças, entre outros. Posso enxergar, em trabalhos nas favelas do Rio de Janeiro, por exemplo, ou no Sertão Nordestino, grupos que trabalham voluntariamente em prol da comunidade, sem fazer alarde, sem querer auto-promoção. É o caso dos vicentinos, da igreja católica; dos grupos de professores de artes marciais e capoerira, em vários morros do Rio de Janeiro e em outras favelas de outros Estados; dos Doutores do Riso, que atuam em vários hospitais por todo o país; da Serenata de Natal. Talvez, você tenha visto isso com maior intensidade aí, por conta do contexto em que você se encontra. Talvez você esteja olhando com outros olhos, olhos de estrangeiro. Talvez o formato do voluntariado aí seja diferente e por isso tenha chamado sua atenção.
Agora, com relação ao empreendedorismo, aí sim, isso é bem raro por aqui.
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Não que eu negue que exista voluntariado por aqui, há e muito, como os exemplos que você deu mostram. O que eu quis dizer foi que não há o incentivo ao voluntariado como vejo por aqui. Por incentivo não me refiro apenas a divulgar e convidar as pessoas a participar. Mas a existência de um sistema de ensino que é estruturado para incentivar esse comportamento nos estudantes. Que vai se repetir e se difundir na vida adulta.
Educação tem muito de uma dimensão social, e aqui eles criaram um ambiente favorável ao voluntariado e ao empreendedorismo. Afinal, como dizia Paulo Freire, ensino não é “depositar” (no sentido mais bancário que ele gostava de usar) mas criar as condições para que o aluno aprenda.
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Renato,
também achei estranho você não ter visto o sistema de voluntariado no Brasil. Tem até curso para ser voluntário e gravar audiobooks pra cegos aqui em Brasília, por exemplo!
E existem muitos grupos de voluntariado ligados a congregações religiosas. Isso é fato. Mas eles existem.
Concordo que o empreendedorismo ainda é incipiente aqui.
Acredito que a Inglaterra não tenha uma cultura tão individualista quanto a dos EUA. E a nossa… Talvez nisso estejamos mais próximos dos norteamericanos do que dos ingleses.
Aqui ainda há muito medo de reivindicar seus direitos pq vc é visto como chato. Nisso somos bem diferentes de europeus e norteamericanos.
Não ter uma profissão que “dê dinheiro” é ser um fracassado. Isso também é um fato que nos aproxima dos norteamericanos, mas não sei como é isso na Inglaterra.
Somos diferentes mesmo. Leio uma revista chamada Vida Simples todo mês. Às vezes ela mostra umas ações movidas pela consciência ambiental na Europa inteira que fico boba de ver. Claro, eles já destruíram muito do que tinham de natureza… Mas aqui a coisa é terrivelmente triste. Nem consciência, nem atitude ambientalmente correta. Estão esperando acabar tudo pra depois chorar sobre o leite derramado…
O brasileiro ainda é mal-educado demais! Joga lixo na rua; desperdiça tudo; anda uma única pessoa num carro para cinco; produz álcool, mas consegue deixar o preço lá em cima; etc. Acho que não fazer essas coisas voluntariamente também é uma forma de ser cidadão, não é? Proteger o que é nosso e nós mesmos!
Já falei demais.
Aqui está um calor tão grande que acho que vou apodrecer e cair! rs.
Bj
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Bem, como eu disse, reconheço que existe voluntariado no Brasil. Mas é o incentivo a participação popular arraigado na formação dos britânicos que me chama a atenção.
Convenhamos, a maioria dos brasileiros ainda não acordou para o fato que democracia não é “votismo” mas sim participação na vida social e política. Os pobre pensam que o estado deve ser sua babá e o ricos que é um fast food que deve devolver os impostos pagos.
Acho que ambos estão errados e creio que a solução já é implementada por aqui há muito tempo.
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