Do Salgadinho à Uva: mudando o cardápio e salvando as fichas em mesas de RPG


Como jogo RPG desde os anos 90, creio que é justo me considerar um jogador old school. Nesse aspecto lembro que a minhas noites de jogo eram regadas à batatinhas, salgadinhos, fatias de pizza eventuais, refrigerantes, biscoitos recheados, chocolates sortidos e todos os ultraprocessados disponíveis na época e que ainda podem ser comprados hoje.

Mas o tempo passa e as responsabilidades chegam. Assim, depois de algumas sessões iniciais, vi que não podia manter esse padrão com o grupo de jovens aventureiros que apresentei aos jogos de RPG. Os motivos passam pela responsabilidade com a saúde deles, a necessidade de ser um exemplo positivo e admito que eu não tenho mais rins e fígado para certas coisas.

Critérios para um Lanche de Mestre

Acredito que, em princípio, o RPG é uma experiência lúdica e o aspecto gastronômico é secundário. Como é um jogo longo, comer e beber é algo normal, mas o foco é a diversão. Dessa forma prefiro alimentos que não deixem muitos resíduos, como mãos engorduradas para emporcalhando as fichas, ou que demandem pratos e talheres que concorrem por espaço com os papéis, livros, lápis e canetas necessários a um RPG tradicional. As opções apontam para o que os americanos chamam de finger food, comida casual para se comer com as mãos.

Há quem prefira a pausa para lanchar, o que abre espaço para opções mais variadas. No meu caso, considerando o tempo de concentração do meu jovem grupo, eu prefiro manter as coisas mais simples para caber no tempo aproximado de 3 horas de jogo.

Com os requisitos definidos as soluções foram encontradas nas compras de feira, o que não é um problema para mim. Seguem as minhas preferidas como um indiscreta preferência pelas cultivares nacionais.

O Pomar na Mesa de Jogo

BRS Vitória.
Foto: Fábio Ribeiro do Santos/Embrapa
  • A BRS Vitória é uma uva preta de mesa sem semente (evitando cusparadas no lugar errado), de sabor agradável, com bom equilíbrio entre açúcar e acidez. Atualmente é uma das principais uva de mesa do Brasil para exportação.
  • Para quem prefere algo menos doce, a BRS Linda é uma uva verde com sabor mais neutro.
  • Outra opção é a BRS Clara, uva verde de mesa, um pouco mais alongada, com sabor um mais cítrico, doce e refrescante. Recomendo essa para os dias quentes e ensolarados.

O tesouro da mesa

BRS Pérola do Cerrado.
Foto: Fabiano Bastos/Embrapa

Minha opção preferida está fora das uvas, meu “item lendário” para um bom RPG de mesa é a cultivar BRS Pérola do Cerrado. Não é sempre que encontro, as safras são menores nos meses de seca, mas trago sempre que eu posso. O pérola é um pequeno maracujá verde, docinho que pode ser consumido cortando a casca e chupando a polpa. Também pode se cortar ao meio e comer com um colherinha caso prefira ser mais fresco elegante. Além de gostoso serve para dar uma suave acalmada num grupo de adolescentes. Maracujina, sua linda.

No apoio

Sempre temos os onipresentes biscoitos de polvilho, pipoca, sucos variados ou agua de filtro (eu adoro filtro de barro) e de vez quando uma mãe agradecida contribui com pão caseiro ou outras surpresas. A vantagem desses alimentos é ser fácil de manusear e ser leve. Assim ninguém fica pesado ou sonolento digerindo a refeição durante uma partida que geralmente dura horas.

Sobre efeitos

Sobre expulsar os ultra processados e bebidas açucaradas da mesa e trazer as frutas, acredito que as vantagens de longo prazo para os hábitos alimentares e a saúde são óbvias demais para citar por aqui. Um efeito sutil na qualidade da experiência de jogo é evitar os picos de açúcar e o inevitável rebote (o sugar crash), o ganho e a queda de energia que vai afetar a disposição dos seus jogadores durante a partida. Uma alimentação mais saudável vai evitar esses altos e baixos na experiência de jogo. Não é apenas a saúde, mas uma vantagem de performance para quem está jogando.

Como eu considero o RPG uma experiência educacional, o exemplo e a oportunidade também acabam sendo uma boa situação de aprendizagem. Especialmente para os que adoram os ultraprocessados.

A experiência emocional positiva do jogo também serve para criar uma referência afetiva sobre o alimentação saudável e bons momentos para os jogadores. Sem ignorar o fato que evitar a tentação para jogadores diabéticos também será ótimo e mais inclusivo. Como o RPG é uma atividade válida para diferentes idades, as escolhas de alimentação podem alinhar diversão e saúde.

Conclusão e odisséia do cardápio

Para quem frequenta as mesas de jogo eu sugiro avaliar seu inventário gastronômico. Ele ajuda a experiência ou atrapalha? Alimenta ou distrai? Pense em como sua experiência de jogo é influenciada pelos alimentos à mesa e como ela pode ser melhorada. Se tiver uma dica ou quiser contar como funciona no seu grupo, comente por aqui.

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