Aventuras na escola comunitária: duas ações para um tempo perigoso


O tempo perigoso citado no título foi o surto de ataques às escolas do primeiro semestre de 2023 que tirou o sono dos pais e mães com filhos em idade escolar. Foi inevitável que o medo também fizesse sua passagem pela escola comunitária. Esse tipo de escola é organização é muito horizontal com vantagens e desvantagens: se por um lado isso torna as coisas mais democráticas, por outro, os processos decisórios tendem a ser lentos.

Porém, a pressão das famílias levou a decisões mais rápidas que o usual. O que considero uma vantagem desse tipo de organização: uma escola privada comum poderia alegar que tomaria medidas de segurança usuais, como restringir o acesso, e o resto é trabalho da polícia. É a resposta correta e esperada de um prestador de serviço, mas numa comunidade é possível procurar mais soluções. Assim, foram planejadas duas ações:

1 – conversar

A comunidade fez um pequeno simpósio com pessoas com conhecimentos variados em torno do assunto, de policiais a psicólogos, que se dispuseram a discutir o assunto com a comunidade. Afinal, eles também tem filhos na escola.

A palestra foi aberta para as famílias e transmitida por videoconferência para quem não podia ir presencialmente. Foi um espaço de diálogo, onde os participantes puderam tirar suas dúvidas com os palestrantes, de acordo com a experiência de cada um. Foi observado que não existe segurança absoluta, o que existe é gerenciamento de risco e fatores que aumentam ou reduzem riscos. Um atentado em escola é geralmente o pico de uma série de fatos internos e externos ao ambiente escolar que oferecem indícios de sua possibilidade. Uma palestrante comentou que um dos fatores que reduz as chances desses casos ocorrerem é justamente existir um senso de comunidade escolar, entre outros. Ser uma escola pequena, onde os alunos, funcionários e famílias se conhecem, também torna o evento ainda mais improvável.

2- reunir

Como se já não fosse um período tenso o suficiente, outro ponto que rendeu crises de ansiedade no país foi o dia 20 de abril. É a data do massacre da Escola de Columbine. Havia um temor generalizado de atentados em escolas nesse dia como “comemoração” e num país acometido por um surto de atentados a pressão era enorme: forças de segurança estavam em alerta e escolas recomendavam que os estudantes não fosse para a aula nesse dia.

Porém, nessa escola houve uma ação simples e , aparentemente, prosaica. A escola abriu e os pais foram convidados a participar de um mutirão para “abraçar a escola” e fazer ações internas, como pinturas e pequenos reparos. Eu achei genial encher a escola de gente que vive, e certamente morreria, para proteger seus filhos. Colocar um tanque na porta da escola não seria tão efetivo. Ainda assim, a escola optou por não fazer publicidade sobre o evento para não provocar interesses indevidos. Pessoalmente achei a ideia inspiradora.

Conclusão

As ações ajudaram a tranquilizar uma comunidade assustada em um momento muito difícil. Também foram uma forma de celebrar a vida enquanto outros desejam terror e morte. Elas também ilustram como não estar isolado e restrito a um núcleo familiar específico pode mitigar o sofrimento e incerteza de momentos como esse.

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