Tá na Mala! ou Get Packing foi uma das minhas aquisições do final de ano de 2021. Desenvolvido pelo estúdio de jogos Zygomatic, foi trazido para o Brasil pela Galápagos Jogos. O jogo funciona como uma quebra cabeças e seu objetivo é colocar todos os itens em uma mala. Ganha a rodada quem conseguir fazer isso primeiro e quem ganhar 3 rodadas vence o jogo. Sim, é simples desse jeito. O que o torna um excelente jogo para crianças, tanto que a idade recomendada é de 6 anos em diante.
O jogo foi inspirado no venerável Tangram, o quebra-cabeças geométrico de origem chinesa muito comum como brinquedo educativo para crianças e usado para exercitar raciocínio espacial, raciocínio lógico e não linear, criatividade, é possível formar diferentes figuras, e introduzir geometria para crianças. Até o pessoal de Gestão de Pessoas observou potencial no jogo para fins de análise e seleção.

fonte: Me Põe na História.
A experiência de jogo
Como disse antes, as regras são muito simples, o que torna uma boa opção para crianças e como jogo de entrada para pessoas não habituadas com esse passatempo. A lógica do tangram é bem presente, os objetos a serem encaixados tem formas geométricas para serem encaixados.
Porém, o jogo descreve bem o abismo que pode existir entre o simples e o fácil. Começamos jogando em família, jogos sempre são uma boa pedida para dias chuvosos. Eu estava imaginando que o principal fator seria o tempo, ganharia quem montasse primeiro. Tanto que nas regras há uma sugestão para que jogadores adultos usem apenas uma das mãos, criando uma dificuldade proposital para nivelar adultos e crianças.
A partir do segundo nível de dificuldade, as cartas descrevem 4 níveis, já não havia muita vantagem em ser adulto. Na verdade, para os adultos ficava a desvantagem do constrangimento após diferentes, e frustradas, tentativas de fechar a mala. Uma das boas sacadas do design do jogo é uma aparente limitação, o formato retangular em que tudo deve ser encaixado, um caso típico de criar uma dificuldade para tornar o desafio mais interessante. Outra boa ideia do designer ficou visível ao observar que existe uma demanda de raciocínio espacial um tanto diferente. O jogo funciona como um tangram tridimensional. É possível colocar as coisas em diferentes níveis. Como agravante, nem sempre os encaixes são perfeitos. Em alguns momentos os adultos sofrem perdendo tempo com isso até perceberem que, ao contrário do tangram tradicional não é o encaixe mais harmônico que vale, mas o que permite fechar a mala. O que pode ser uma sutil forma de ensinar que o mundo não é perfeito e também que a melhor solução é a que funciona, não necessariamente a mais cara ou bonita. Achei isso um belo avanço em relação ao original. Por fim, a escolha de cartaz redondas, em um estilo que me lembrou o Dobble se mostrou ótima para aumentar a dificuldade do jogo, a falta de cantos torna a contagem de itens mais difícil. O que, para mim, descreve um aspecto interessante do design de jogos: enquanto outros designers tentam facilitar a vida do usuário o de jogos adora inventar dificuldades.
Todos esses desafios criam excelentes oportunidades de uso da criatividade e de raciocínio não linear para a solução de um problema específico. Em várias rodadas passamos mais tempo lutando contra nossas próprias malas do que tentando superar os adversários.
Conclusão
O jogo é uma excelente evolução do tangram, sua fonte de inspiração. A história é simples, mas o mérito está na forma como essa história foi contada, permitindo um jogo envolvente. O número de cartas me pareceu pequeno, mas ainda é cedo para dizer. Meu único reparo é que as malas poderiam ter uma trava clicável, para dar certeza que as coisas realmente couberam e que ela fecha. Ainda assim, o jogo funciona como um bom passatempo, sem demandar longas explicações de regras e também pode ser uma boa forma de incentivar o raciocínio lógico e a criatividade em situações escolares. Inclusive, o jogo prevê a opção de jogo individual, quando o jogador deve conseguir fechar a mala em menos de 30 segundos. O que também pode ser mais complicado que você imagina.

Deixe um comentário