Aventuras na escola comunitária: exercícios difíceis e outras matérias


Com a pandemia de Covid-19 as reuniões sobre matérias da escola ficaram ainda mais importantes, apesar de serem mais chatas por videoconferência. E foi exatamente uma reunião o que tivemos. Afinal, com as aulas remotas os pais precisam participar ainda mais na educação dos filhos. É preciso acompanhar, incentivar e cobrar para complementar o que os professores não conseguem fazer do outro lado da internet. Se isso já foi um esforço para as pedagogias tradicionais, para a Waldorf e suas ressalvas em relação à tecnologia, o impacto foi ainda maior. Para fazer frente a esse desafio é preciso ter uma noção ainda mais clara dos objetivos das aulas e estratégias de aprendizagem. O que não devia ser exatamente uma surpresa numa escola comunitária.

Foto por cottonbro em Pexels.com

Os exercícios

Para melhor entender o que é esperado dos alunos, uma coisa comum nessas reuniões é que os pais façam alguns exercícios de classe. Nessa reunião fizemos uma atividade em que devíamos reproduzir desenhos de formas. Parecia algo muito fácil, mas a prática provou o contrário. O que me deixou positivamente impressionado em relação aos alunos e me repensar algumas cobranças.

O aspecto mais complicado desse exercício me parece ser que o processo demanda um modo de pensar, um funcionamento do cérebro, levemente diferente. O que me lembrou o clássico Desenhando com o Lado Direto do Cérebro. Imagino que exercícios similares teriam um bom impacto na prática de desenho de marca em cursos de design gráfico. Atividades iniciais para facilitar esse desenho de forma foram, desenhar com o corpo, como pés ou mãos, repetindo essas formas complexas com as pernas e os braços para internalizar o movimento. O que deve servir para tornar a aprendizagem mais gradual. Tentar desenhar essas formas de uma só vez foi uma experiência cansativa observada em primeira mão.

As matérias

Dentre os assuntos abordados o primeiro se referia à gramática que eles estão começando a aprender. Começa pelo verbo porque tudo bem do movimento, assim como o desenho. Achei legal colocar a ideia de adjetivos em verde, verbos vermelhos e substantivos azuis. A proposta me parece ser combinar cor e gramática para ancorar melhor na memória o conhecimento sobre as formas gramaticais, uma ideia bem sinestésica. Em termos de escrita, após várias aulas de poesia está sendo incentivada a escrita própria, é o momento de começar a escrever o que pensa e não apenas copiar.

criança assistindo aula
Foto por August de Richelieu em Pexels.com

O processo de ensino de matemática continua muito sensorial: é preciso lidar com saquinhos e sementes para fazer as quatro operações pata ajudar a mensurar as quantidades. Me parece muito mais fácil para começar a entender as operações do que números abstratos e arbitrários escritos numa lousa. Segundo a professora o ideal seria ter duas centenas de sementes em diferentes saquinhos para entender centenas, dezenas e unidades. Me pareceu algo como um ábaco primitivo.

Outra atividade que eles terão nesse ano é a construção da casa. Além de ser uma atividade centrada em um projeto e do trabalho em equipe é uma forma de uma criança criar ser primeiro espaço próprio, ter seu espaço interno e pessoal. A proposta é que isso se reflete na formação do mundo interno e pessoal.

No primeiro semestre eles plantaram trigo e milho, a ideia foi vivenciar e entender de onde vem os alimentos. Evitando essas ideias constrangedoras de que o leite nasce na caixinha. Não existe argumento melhor que a própria experiência.

Outro tópico que eles vão estudar no segundo semestre são as profissões. Esse estudo serve para mostrar a rede de colaborações que existe na sociedade civilizada. O que permite entender que tudo o que temos foi feito por alguém. Assim, eles vivenciam o trabalho de forma contextualizada, entendendo a importância do esforço próprio e do trabalho alheio. Imagino que isso deve ter impactos interessantes no trabalho em equipe no futuro

Impactos da Covid-19

É preciso fazer uma avaliação de danos quando a pandemia terminar. Afinal, é óbvio que eles ocorreram, mesmo que sejam apenas na forma de atraso na formação dos alunos. Essa é mensagem desagradável que nenhuma escola ou mesmo ministério da educação deseja fazer, mas é necessário. O argumento “Mas meu filho teve aulas online” é ruim. Afinal, se o esgotamento por videochamada, ou fadiga de zoom foi um problema para os adultos, para as crianças o impacto certamente foi pior ainda. Acompanhei o suficiente dessas aulas para perceber que manter a concentração de uma criança é um belo dum esforço. Manter a paciência dos pais, também. Estudar esse impacto é algo que precisa se tornar tópico estratégico nos próximos anos para se desenhar políticas de compensação. Como se herdar o aquecimento global já não fosse ruim o suficiente.

No mais, a vida continua, graças ao trabalho voluntário a escola tem seu próprio sistema de monitoramento e as aulas presenciais retornaram com cautela. Porém, como demonstrado em Serrana, a solução definitiva só virá com a vacinação. Quase normal ainda não significa normal mesmo.

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