Como já escrevi antes, eu sou um fã da prática responsável de artes marciais por crianças. Nesse caso, a aprendizagem mais importante e eficaz para crianças é aquela baseada no brincar. Brincadeiras, mesmo que um pouco arriscadas, tem um papel importante para o desenvolvimento infantil. Para ser claro, eu apenas quero dizer que risco é algo a ser gerenciado, mantido em um nível aceitável e precisa não ser evitado a qualquer custo. Como o link acima descreve, os custos são altos.
Voltando à questão das brincadeiras, eu gosto de inventar algumas para que os pequenos se exercitem a aprendam coisas úteis. Um dos “pulos do gato” é fazer isso sem que elas percebam o que estão aprendendo. Deixe as aulas para a escola.
A brincadeira
No caso eu inventei uma brincadeira que meu filho gosta de chamar de “Jason” em homenagem ao clássico filme Sexta-feira 13 (que ele não tem idade para ver). Os equipamentos necessários são: um espaguete, daqueles usados em piscina; pistolas nerf; óculos de proteção. Tudo isso num espaço com área livre para correr, com preferência para um local com alguns obstáculos que reduzam a visada.
Em essência as crianças precisam atravessar um local. Escondido em algum lugar eu estou como o Jason. De máscara, como exigem os tempos de pandemia, e com os óculos de proteção para mostrar, pelo exemplo, que o uso de equipamentos de proteção individual é importante. Eu fico com o espaguete e preparado para acertá-los, se eu os atingir primeiro eu ganho. Por outro lado, eles estão com as nerf e se me acertarem eles ganham. Eu preciso me aproximar e tenho a vantagem da surpresa. Em compensação, eles tem a vantagem da distância e da velocidade (eles correm pra caramba). Assim, mesmo eu sendo um adulto a situação se equilibra mais. Força não é um diferencial, mas velocidade sim e isso eles podem usar. Com esses equipamentos o risco de ferimentos é baixíssimo.
A aprendizagem
Em termos de aprendizagem o que está acontecendo? As crianças estão sendo submetidas à famosa situação de luta ou fuga. O que envolve diversas reações físicas e psicológicas e uma escolha a ser feita em milésimos de segundo. No momento em que são pegas de surpresa as crianças lidam com o susto, a adrenalina e fazem sua escolha no ambiente seguro de uma brincadeira. Ao mesmo tempo eu também estou aprendendo, me acostumando à lidar com a situação em que só tenho uma arma branca contra uma de “fogo”. Também é um treino útil para o praticante de arnis, o espaguete simula um bastão, uma lâmina ou uma arma improvisada e eu ainda faço um pouco de exercício aeróbico.
No início as crianças só gritavam e corriam. Eles tomam sustos? Sim, mas quem disso que isso é necessariamente ruim? O primeiro indicador de um bom resultado é elas não paralisarem de surpreso. Com o tempo eles vão aprendendo a evitar as quinas, esperar o inesperado e a perceber e utilizar as vantagens que a distância oferece. Suponho que também estou aumentando um pouco a tolerância deles à adrenalina por meio da experiência.
Os limites
Como toda a brincadeira livre, diversão é mais importante que performance e o direito de parar a brincadeira deve ser liberado, segurar a competitividade também é bom (apesar de se divertir não se esqueça que você é o adulto). Lembro que ninguém se diverte com uma avaliação não solicitada, que é terrível para a criatividade das crianças, além de ser chata. Também não se pode esquecer que numa brincadeira todo mundo deve se divertir, inclusive o adulto. Isso interfere na motivação.
Enfim, esse é mais um exemplo de que mesmo nas brincadeiras mais simples a diversão pode ser combinada com aprendizagem.

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