
Nesses últimos dias, como bem descreveu o Elio Gaspari um monstro ou, como se referem outros, um gigante está acordando. Os números são simplesmente impressionantes: na segunda foram uns 250 mil em dezenas de cidades, na quinta já passavam em muito do meio milhão. Todo mundo fala sobre o assunto enquanto o assunto copa simplesmente empalidece, sombreado pelos protestos imensos.
O que vemos é um gigante se espreguiçar, como um godzilla prédios caem com o movimento do seu rabo e lojas são depredadas por suas pulgas, o vândalos, que pululam pelas pegadas do gigante.
Começou como pequenas manifestações sobre passe livre que resultaram em vandalismo e resposta desproporcional da polícia e de repente assumiram uma proporção que é tão surpreendente quanto o comportamento do gigante. Bandeiras de partidos são banidas das ruas e políticos tentam fingir que não é com eles enquanto cientistas sociais assumem que estão perdidos. A polícia demonstra suas limitações ao lidar com o delicado equilíbro entre o direito a manifestação e simples anarquia.
De, de início alguns ficaram horrorizados com essa lavação de roupa suja na frente das visitas. Afinal, estamos no meio da copa das confederações e um dos pontos mais criticados é justamente o dos gastos com a Copa e as Olímpiadas. Inclusive os protestos estão tendo um apoio até inusitado no estrangeiro, como num artigo do Guardian.
Quando algumas celebridades de plantão tentaram jogar seus panos quentes as respostas foram ainda melhores. Quando o infeliz do Ronaldo falou que não se joga copa com Hospitais, creio que a melhor resposta que podia ser dada foi a desse vídeo.
https://www.youtube.com/watch?v=uuUCxiC5SE8
São tempos belos e ao mesmo tempo assustadores. Pois um modelo de democracia representativa está sendo questionado e, para piorar, aqueles que deviam nos representar parecem sequer serem capazes de entender o que está acontecendo, quanto mais oferecer respostas necessárias. Um exemplo é a aprovação na surdina de idéias indigestas como a cura gay, o cerceamento do Ministério Público e o controle de decisões do Supremo Tribunal Federal pelo congresso. Os caras mostram que estão descolados do que acontece na rua. Podemos sair dessa muito melhores do que entramos.
Por um lado a pauta de reivindicações é extensa e como resultado os assuntos realmente importantes estão sendo discutidos: Que país queremos e como queremos? Estamos saindo das discussões básicas sobre sobrevivência e nos sofisticando, o povo não que mais apenas comida. Quer saúde, educação, segurança, emprego, respeito. Novas pautas surgem, algumas convergentes, outras contraditórias.
Por outro lado também podemos sair bem piores, há oportunistas tentando usar esse momento a seu favor e a história mostra que diversos movimentos inicialmente liberais acabaram abrindo as portas para coisas terríveis. A liberal revolução francesa abriu espaço para o período do Terror, onde a guilhotina corria solta, a revolução russa levou à Stalin e a revolução iraniana acabou desembocando em Khomeini. Tempos como esse podem levar a grandes avanços, mas também tem seus riscos.
Com certeza são novos tempos com características muito diferentes das “Diretas Ja’ e ‘Fora Collor’. Pela primeira vez políticos, partidos, e as chamadas e tão decantadas organizações da sociedade civil estão à margem. Isso é, ao mesmo tempo, inovador, e assustador. Os partidos políticos são colocados à margem, não obstante a tentativa de alguns de pegarem “carona” no movimento. O que os cientistas políticos há bastante tempo se referem como a falência dos partidos e sua relação “esperta” com a sociedade aflorou da forma menos esperada. Com toda a certeza os partidos, os políticos, governadores e nossa Presidente vão tentar “surfar” essa onda de olho em 2014. É provável que o movimento reflua ou até que fuja inteiramente ao controle com consequências difíceis, no momento, de se avaliar. De qualquer forma as próximas eleições não serão iguais as que passaram. Espero e torço para que isso ocorra.
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É um dos detalhes que estou curioso, cadê os presidenciáveis agora. Antes tão vistosos mostrando obras e propostas e agora parecem ter murchado. De certa forma um modelo de política chegou ao seu limite.
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